Convido você a receber um pouco de mim. Vou narrar nas próximas linhas como superei um divórcio em pouco tempo. Parece até propaganda de cunho religioso, mas não é. Claro precisei de muita fé, determinação e foco, mas foi uma busca interna para um EU perdido em meio ao casamento. Venha com o coração aberto e disposta a superar seus desafios.
Aos 38 anos e meio, eu percebi que poderia me separar do meu marido. Estávamos juntos por quase 12 anos na época. Estava tudo estranho e confuso na minha cabeça e coração. Já percebia que tinha uma terceira pessoa em nossa vida. Na verdade, na vida dele. Eu era o tipo de pessoa que não assistia filmes e novelas que apresentavam cenas de traição, tinha o verdadeiro pavor disso. E não poderia imaginar que isso iria acontecer na minha vida. Sim, aconteceu, fui traída. E não saberia escrever sobre essa dor de tão profunda que é.
Aos 39 anos eu tive certeza que entraria no ciclo do divórcio. Não dava mais pra segurar. Esbravejei e gritei, mas a raiva passou rápido, parecia que entendia a situação. E eu fiz o exercício de me colocar no lugar dele. Éramos tão cúmplices, que eu conseguia compreender o mal estar que ele estava passando com todo aquele movimento que estava acontecendo com as nossas vidas.
Eu então, pedi o divórcio, sem nenhuma certeza de ser feliz depois, mas era a coisa mais certa que eu teria que fazer naquele momento. E todas as vezes que ele me ligava perguntando se eu estava certa daquela decisão, eu dizia que sim. Mesmo o meu coração dizendo que não.
Sempre ouvi que as nossas vidas tem que ter um processo de gestão como uma empresa, então definitivamente eu precisava ter um plano B.
Com o perfil de coach, filha de pais separados, leonina, precisava criar estratégias para diminuir o meu sofrimento, ansiedade e evitar uma depressão. Porque nas minhas memórias afetivas eu me lembrava que minha mãe tinha passado por tudo isso e caiu numa depressão profunda. Precisava escrever esse roteiro da minha vida de forma diferente, pois a minha mãe não teve as mesmas oportunidades que eu. Dessa forma tinha uma responsabilidade moral de fazer uma outra história com todo esse aprendizado.
Aí pensei, sempre ouvi que as nossas vidas tem que ter um processo de gestão como uma empresa, então definitivamente eu precisava ter um plano B. E isso foi a coisa mais útil que eu poderia ter colocado em prática. Consegui me auto analisar, analisar a situação. E focar na solução e não no problema.
Antes mesmo dele sair definitivamente de casa, passei a madrugada rabiscando meus próximos passos e fiz um pacto comigo mesma para cumprí-los. Eu me lembro até do gosto do chá de frutas vermelhas que tomava naquela noite para acalmar o coração. E acalmava.
Eu estava certa de alguns sentimentos que perpetuavam e gritavam dentro de mim:
– Tinha muito amor pra dar;
– Não queria sofrer por muito tempo;
– Não tinha certeza mais de quem eu era;
– Tinha disposição para viver com menos recursos.
Partindo desses princípios criei passos estratégicos:
1. Espaço para a chegada do novo
Decidi ser mãe do Aron, meu cachorrinho Pug. Eu precisava imprimir todo o AMOR que carregava dentro de mim, sem sufocar um humano. Pesquisei para adotar e não encontrei, então resolvi investir e encomendei o meu filho. Parece estranho falar assim, mas ele foi inseminação artificial. Usei alguns critérios, de qual raça eu mais me adaptaria. Eu queria uma raça dependente de mim, e que se adaptasse em apartamentos. Nessa época eu sabia que mudaria para um apartamento.
Desde da primeira vez que olhei pra o Aron, me apaixonei, mas eu não sabia que era capaz de amá-lo na intensidade que eu o amo hoje. E foi aí então que eu percebi o quanto é importante dentro de um lar compartilhar e dividir atenções. Logo eu, que nunca quis ter filhos. Foi tão sábia essa decisão aos meu olhos que eu consigo me aproximar do amor das mães com os filhos humanos, e consequentemente comparar a um amor incondicional. Fase 1 cumprida!
2. O limite para um choro de amor
Eu sempre soube da importância de passar por um luto, mas achava importante eu colocar um tempo limite. Foi o dia que ele saiu de casa definitivamente. Já tinha mudado para o apartamento e colocado a nossa casa a venda. Tudo por mais decisão minha do que dele. Achava o apartamento oportuno por ser simples e de fato eu conseguiria me manter depois da saída definitiva dele. Mesmo com a dor eu pensava nos detalhes.
Como eu nunca tinha morado sozinha, fiquei completamente perdida com a despedida dele. Mas não tinha muito tempo, teria que respeitar a data que propus para mim mesma. Pensei, preciso colocar uma data limite para adaptação. Foi o que fiz, me dei 07 dias naquele mês de setembro, uma semana para me reconstruir. Então a segunda estratégia era colocar uma data para o começo e o fim do choro por ele, ficar descabelada e resmungar. Fiz tudo isso!
Mas também comprei plantas para cuidar, avisei no trabalho que estaria 50% presente de forma remota, pedi para minha irmã de N.1 orar por mim, fiz meditações, assisti vídeos de auto ajuda, acendi incenso, conversei com benzedeira pelo whatsapp, escutei músicas do Padre Fabio, avisei os mais chegados da família que estava tudo bem, falei com os meus sobrinhos sobre o quanto eu os amava e segui. Com medo, mas segui.
Ah, também compartilhei com as minhas amigas de infância a decisão e fui recebendo amor e dicas para superar. Como é importante ter pessoas que você confia para dividir a sua dor. Na época, estava cursando uma matéria da faculdade, e avisei o meu grupo que ficaria ausente nesses sete dias. Tudo calculado e pensado, eu tinha sede de me reconstruir. É como se eu devesse isso pra mim mesma, entende?
Cumpri os sete dias, retomei a vida – com estranheza mas retomei. E lá se foi mais um passo! E depois disso entraria no período pós luto ou pós operatório, pra ficar menos dramático. Retornei ao trabalho e às aulas da faculdade, e tive a sorte de conhecer uma amiga da minha mesma faixa etária. Ríamos das mesmas bobagens e falávamos assuntos profundos, e curiosamente ela tinha o mesmo sobrenome que eu e também era leonina. Ela me ajudou a atravessar a ponte do divórcio. Foi fundamental para descobrir que tinha um mundo lá fora, além do meu casamento.
Depois de uns meses comecei a sair com ela e sua turma. Em uma dessas saídas, beijei um amigo dela, gostei, ficamos por algumas vezes, e não mais que isso. A minha expectativa era maior que a dele, e erroneamente eu não tinha alinhado essas expectativas.
Mas, o que eu aprendi nesse momento? Tive a certeza que estava de volta ao mercado dos ficantes, affairs, crushs ou qualquer outro nome que damos para esses mini romances. Eu aprendi a respeitar o processo e sempre alinhar as expectativas e fechei o ciclo do pós operatório. Estava pronta para o próximo passo.
3. Seja incrivelmente interessante e verdadeira
Quando casada eu me despersonalizei, e então comecei a me questionar o que realmente gostava, desde os passeios, comida e gosto musical. Quem verdadeiramente eu era? Aos poucos fui me redescobrindo. É como se eu nascesse novamente ou voltasse para minha adolescência, é como dar um PLAY no filme da vida. É bizarro.
Mas, eu precisava descobrir os meus gostos para construir uma vida interessante e verdadeira. Certo?
Então, validei que gostava de sair a noite, gostava de música e até poderia me apaixonar novamente e novamente e novamente. E o que mais? Comecei a analisar o que me deixava radiante antes do casamento, peguei um papel e uma caneta bic dourada e listei os meus maiores prazeres e me propus a refazer e analisar se realmente eu sentia a mesma adrenalina. Poderia não gostar mais. Será? Eu não tinha mais os meus 20 anos, o brilho natural dos 20 anos, mas eu tinha coragem e algo que aos 20 não temos. Maturidade e experiências diferentes . Resolvi viver tudo novamente. Nesse momento fui totalmente cinestésica.
Aí que vieram as grandes viradas de chave.
Me tornei esposa e deixei de lado o meu melhor papel: Ser Mulher!
Andar a cavalo agora era muito mais gostoso do que na adolescência. Lembro que tinha torcido o pé direito andando a cavalo e depois disso nunca mais tinha cavalgado. Praticar boxe era muito melhor do que a aeróbica aos 18 anos, andar na terra e se aventurar de moto era muito mais divertido. E muitas outras atividades, eu era muita dinâmica. Estava disposta a resgatar tudo isso porque agora eu tinha certeza do que me fazia e me faz feliz.
Comecei a viver novamente, eu tinha deixado tudo para trás. Eu não me lembrava mais disso, porque a minha rotina de casada se resumia em ir em restaurantes, fazer churrasco em casa, olhar ele jogar vídeo game e raramente fazer pilates. Eu não tinha vida própria. E eu assumo totalmente essa culpa, pois me entreguei ao casamento, me tornei esposa e deixei de lado o meu melhor papel: Ser Mulher!
O papel da minha irmã de N.2 foi fundamental pois ela lembrava mais de mim do que eu mesma, e por isso fazia total sentido ela me apoiar em todas as aventuras e decisões, e isso só me empolgava mais. Desde a minha separação ela vem me lembrando do perfume que eu usava, da música que escutávamos, da bagunça que fazíamos nas festas em casa, e me mandava algumas músicas que estavam fazendo sucesso atualmente. Assim, fui introduzida de volta ao mundo.
É importante você ter um time para cumprir executar sua estratégia. Eu tenho um time.
Tendo uma vida interessante, você se torna uma pessoa interessante. Você começa a ser notada naturalmente, sem forçar a barra. A cada stories postado na rede social da moda eu recebia mensagens de amigos interessados, aliás eles estavam se interessando pela Laine de verdade. E aí, você vai treinando o seu repertório de paquera. É uma delícia. Porque eu não sabia mais flertar, estava totalmente por fora. Ou apenas esquecido, como acontece com as bicicletas.
Mesmo não sendo esse objetivo nesta terceira estratégia, mas quem é que não gosta de afagar o ego, e quem sabe encontrar um amor. Eu nunca deixei de acreditar no amor.
A quarta estratégia escrita no meu bloquinho rosa que tenho na mesa branca do quarto que virou meu escritório era:
4. Resgate os cofrinhos
Tudo que eu recebia de grana dos jobs extras eu guardava antes mesmo do divórcio, uma sobra de cinquenta reais do salário eu guardava. E foi assim durante um ano. Sabia que a qualquer momento teria que arcar com imprevistos e até o mesmo com o próprio divórcio. Quando a pandemia do covid-19 chegou, eu me sentia economicamente um pouco mais tranquila.
Com a diminuição brusca do meu salário, eu decidi pelo desligamento. Mas a estratégia 4 já estava em mode on.
Quando decidi escrever e criar esse blog, falei para um dos meus melhores amigos, o meu ex marido (!!!). Sim, ele se tornou um amigo para todas as conversas, só não trocamos informações amorosas, faz parte do pacto com ele, mas todo o resto conversamos. O incentivo dele foi tanto que ele se propôs a fazer uma carta aberta pra mim, conforme vocês leem abaixo:
Nunca deixe sua vida de lado, tenha uma vida paralela e pessoal, ainda que seja casada
Quando penso que posso ficar pra baixo eu corro, leio a estratégia de número 3 e também me lembro do Aron, do passo 1. Importante saber que podemos ficar tristes mas é consolador quando temos um plano ação que torna a nossa rotina.
Você repara que cada estratégia foi uma experiência. Eu vivi na prática voluntariamente e involuntariamente. Desde o Aron, andar a cavalo, meditar, rezar, o amigo da amiga. Testei tudo para devolver o meu Eu que havia deixado para trás.
E o meu grande aprendizado é: nunca deixe sua vida de lado, tenha uma vida paralela e pessoal, ainda que seja casada. Seja presente para você em primeiro lugar. Será bom para você e para o seu parceiro. E sempre tenha um plano B. SEMPRE!
Espero que esse conteúdo ajude as mulheres a refletirem que as estratégias na sua carreira profissional são tão importantes quanto na sua vida pessoal. É funcional. Podem acreditar. E, se você tem uma experiência potente para compartilhar com outras mulheres, escreva pra mim, vamos crescendo juntas.
Débora Bento
5 anos atrásSensacional, nunca imaginei conhecer a Laine por esse lado estou emocionada.
Tati Stefano Feltrin
5 anos atrásIncrível, você é uma menina mulher sensacional. Que linda divisão com todas nós, e sim, quero dizer: tenho coisas para rever e farei isso! A gente se esquece um pouquinho em nome de nossos amores e… obrigada por me lembrar disso, por nos lembrar.
Ja gostava de você e agora entendo porque! ❤
Laine
5 anos atrásTati, que bom que você visitou o Prateleira. Que lindo você ter esse olhar. ❤️
Laine
5 anos atrásDébora! Eu também me emocionei muito quando escrevia, 😍. ❤️🙏🏼
Dirlene Silva
4 anos atrásArtigo excelente! Incrível relato, Laine! Parabéns por ser este exemplo de mulher e ser humano! Força de vontade, amor próprio e estratégias são essenciais para sobreviver, superar e aprender com os obstáculos da vida!
Carla Lacerda
5 anos atrásParabéns pela superação, amei !!! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Laine
5 anos atrásObrigada, Carla! ❤️
Daiana Lopes
4 anos atrásTive o privilégio de te conhecer e passar grande parte dos meus dias com vc por conta do trabalho e te conheci bem na época do meu divórcio… Há cinco anos atrás você foi fundamental na minha vida, pois vinha de um relacionamento de anos e não tinha nem mais amigos e você sem conhecer minha história me ajudou demais Laine. Parabéns você é TOP demais gata!
Muito sucesso 👏👏
Mafalda Gimenes
5 anos atrásAmei o seu relato,me fez lembrar da minha separação e relembrar o meu luto que só superei pq assim como vc eu tinha Time!💙
Laine
5 anos atrásMá, palmas para o nosso time!
Obrigada por ter passado aqui, ❤️.
Alessandra
5 anos atrásParabéns amiga pela superação e coragem de compartilhar sua história!
Ressignificou tudo que aconteceu na sua vida e agora tá aqui arrasando e ajudando outras mulheres!
Muito orgulho de você! LOv.UUU ❤️
Laine
5 anos atrásObrigada, amiga linda!
❤️🙏🏼
Nívea Galvão
5 anos atrásMe enche de orgulho, superação será sempre sua palavra magica !
Parabéns Te amo
Laine Ventura
4 anos atrásSis, obrigada! Te amo!
Artur Tamashiro
5 anos atrásPrática, singela, sábia, resiliente e acima de tudo… Verdadeira MULHER de verdade
Laine Ventura
4 anos atrásArtur, muito obrigada por ter lido o relato e deixado seu registro!
Lucas Laroca
4 anos atrásUma verdadeira história de superação e de aprendizado , além de desafiador . Parabéns pela iniciativa de postar aqui seu relato e de mostrar soluções que podem ajudar muitas pessoas em períodos de crise. Você é uma vencedora . Te admiro demais.
Laine Ventura
4 anos atrásLucas, muito obrigada! Você é um amigo especial!
Lilian Ventura
4 anos atrásRelato sensacional, consegui imaginar os detalhes, até quando você cita o chá que tomou. O limite do choro em nossas é necessário.
Laine Ventura
4 anos atrásLilian, linda! muito obrigada!
Lilly Freitas
4 anos atrásMenina danada👏🏻👏🏻👏🏻😘
Eleison Christiano
4 anos atrásLaine, sempre te admirei, mas depois disso tudo que li, minha admiração multiplicou por 1000!
Parabéns pela integridade, pela superação e por compartilhar.
Um beijo grande pra você menina.
kely Pereira
4 anos atrásAprendizados, é isso que a vida nos possibilita todos os dias…
Carol
9 meses atrásEssa mulher é pura inspiração! 🌷