Nestes últimos dias recebi pelos grupos um convite para ver a exposição Carolina Maria de Jesus no @IMS. Depois de tanto ficar em casa por conta do isolamento, o fato de se organizar para sair parece ser um grande “gasto” de energia emocional. Mas nem sei bem se é isso, só sei que nunca pensei que se preparar exigia muito da gente.
Ao me deparar com a intervenção de pérolas, flores brancas e tule branco, não me contive. Chorei.
Bom, mas o foco é na exposição. Acho que não vou conseguir dar todos os detalhes, mas quero falar da experiência. Ao entrar já fui impactada pela sua foto, na qual ela estava vestida com uma roupa feita pelas suas mãos.
Luz, penas das galinhas do seu quintal, bordados, papelão e papéis. Elementos que vão atravessando a exposição e também quem nela se permite estar.
Música, poesia, versos, letras e posicionamento. Uma mulher negra que se posiciona em pleno regime militar. Mas perceba que o seu posicionamento foi mais aceito fora do Brasil e depois aqui, mas podemos também questionar o modelo deste “aceite”.
Mas ao me deparar com a intervenção de pérolas, flores brancas e tule branco; com uma bacia esmaltada e um par de sapatos vermelhos. Não me contive. Chorei, senti as lágrimas descendo no meu rosto em meio a máscara e os óculos, ao mesmo tempo o coração acelerou e viajei nas minhas lembranças afetivas da minha ancestralidade e cheguei nas minhas avós.
Lembrei da bacia que fazia parte da rotina, das pérolas, que serviam para o seu autocuidado, das flores brancas que perfumavam e enfeitavam a casa, como também para os banhos envolvidos com o sagrado e com tanta sabedoria e com os elementos da natureza.
Para mim um altar, que deve ser respeitado e reverenciado por tantos símbolos e sinais. A exposição provoca o nosso olhar para analisar tudo através da metodologia da Sankofa. Passado, presente e futuro tudo junto, não sei se nesta ordem, mas tudo ali, junto e misturado.
Escritos a mão, fotos, áudios e provocações em papéis e papelão.
O papel(ão) que era desconsiderado, nas mãos de Carolina virá algo a ser revelado, base para a escrita de novos versos e prosas. Sim, outra imagem impactante foram os escritos em pedaços de papelão e colocados de forma suspensa, proporcionando leveza e movimento. Nomes de mulheres, escritas com letras tipo bastão, como se fosse um treino.
Me remeteu a Paulo Freire e ao material que minha avó utilizava no Mobral. Livros feitos de com papel jornal para libertar quem se liberta pelo ato de não só falar ou escrever, mas se libertar por inteiro de corpo e alma.
Neste breve e humilde relato, tentei apresentar dois momentos marcantes para mim, nesta experiência.
E você? Já visitou a exposição? Quais foram os momentos ou as intervenções que te tocaram? Deixe aqui o que te tocou, compartilhe com a gente. Vamos fazer este momento se tornar um registro vivo como Carolina de Jesus.
Patricia Pio
Pedagoga com Habilitação em Gestão Escolar, Especialização em Gestão de Políticas Públicas, Inclusão e Diversidade Social, Mestranda em Educação – Formação de Professores pela UFSCAR-Sorocaba;
Gicélia Rodrigues Dos Santos
3 anos atrásExposição linda! Elementos simples que remetem a uma grandiosidade de significados. O papelão me diz tanto… proteção, abrigo, sustento. Resignificação.
Jordana
3 anos atrásInfelizmente ainda não consegui agendar uma visita, todas, os finais de semana tem sido muito disputado, também há de se compreender… Carolina merece demais tal reconhecimento (ainda que tardio).
Obrigada por compartilhar suas experiências, aumentou ainda mais minha ansiedade em poder visitar a exposição. Beijão!!