Acho que vou montar um livro de histórias vividas por uma mulher negra. Em outros momentos já escrevi como somos lidas como mulheres perigosas; pois sou negra, mulher e divorciada.
Mas hoje, quero partilhar as minhas novas experiências de um outro lugar na perspectiva de território, de como o meu olhar vem mudando e de como a maturidade também contribui para isso.
A minha jornada de vida vem mudando constantemente. Acho que em algum momento na vida eu pedi para o universo: “não quero estagnar”. Gente, isso tá rolando o tempo todo. Então fiz novas mudanças. Mudei de casa, trabalho, cidade e estado de uma vez só e em menos de um mês.
Ufa!! Fui chamada de louca? Fui sim! Mas estava certa da decisão, pois nos últimos quatro anos o universo só veio me preparando. Foram muitas mudanças, de uma vida privilegiada para a morada em casa de amigas, do casamento que parecia ser eterno para uma vida toda (só eu achava tá), para uma experiência única de felicidade e plenitude em mim mesma. Parece egoísmo, mas não é!
Pois o que ela sofreu foi intolerância e violência contra mulher, não racismo.
Aceitei o desafio. Não quer dizer que não teria novas situações, mas o que é viver se não agradecer pelos desafios como momentos de aprendizagens? Em um dia comum, voltando do trabalho, pedi um carro de aplicativo e veio uma motorista. Adoro quando isso acontece, pois penso uma mulher contribuindo com a outra.
Vejam bem, eu uso com os motoristas homens também, mas fico feliz quando tem uma mulher dirigindo. Sabemos dos nossos enfrentamentos diários só por sermos mulheres e ainda mais dirigindo o dia todo na rua. Nossa! Precisamos tentar nos colocarmos no lugar das outras.
E papo vai e papo vem, falamos do trânsito da cidade e que no dia anterior tudo estava muito agitado, por conta das campanhas eleitorais. Sinalizou sobre um bairro violento e que um amigo dela, que também é motorista, foi ameaçado com uma pedra. Completou a fala que agora ela repensa em atender os moradores deste bairro por conta desta experiência do amigo. Entendo e não entendo, pois a violência não é territorial. Ou é?
Continuamos o papo, ela contou que alguns dias antes deste amigo passar por tal experiência, ela também esteve no mesmo bairro por conta de uma campanha eleitoral e sofreu racismo, por conta dos seguidores do candidato Y e X. Deu tela azul, como dizem buguei. A motorista não tinha nenhum traço afro. Parei, respirei e pensei.
Explico para ela o que é racismo ou fico quieta e alimento o meu sentimento de dó, por uma pessoa pouco informada? Pois o que ela sofreu foi intolerância e violência contra mulher, não racismo.
Tudo isso passou em minha mente em segundos, cheguei no meu destino, agradeci e desci. Talvez ela consiga ter tempo de conversar com outras mulheres e elas se sintam bem em explicar, pois eu não consegui.
Patricia Pio
Pedagoga com Habilitação em Gestão Escolar, Especialização em Gestão de Políticas Públicas, Inclusão e Diversidade Social, Mestranda em Educação – Formação de Professores pela UFSCAR-Sorocaba;
Sheila Pereira
2 anos atrásMuito bom, adorei
patricia
2 anos atrásObrigada pela leitura!!!